O espaço das mulheres no esporte sempre foi muito restrito, na primeira edição das olimpíadas da era moderna, no ano de 1965 em Atenas, não foi permitida sua participação, pois consideravam que elas teriam outros deveres, e segundo o idealizador do evento, as atividades atléticas faziam as mulheres parecerem indecentes e grotescas. Com isso, apenas em 1900, na segunda edição do evento, sediado em Paris, foi aprovada sua participação, mas somente em esportes bem específicos considerados mais delicados.

Embora tenham conquistado espaço para participação em alguns esportes, foi só depois de 112 anos, no ano de 2012, que as mulheres puderam competir em todas as modalidades olímpicas que os homens disputavam. As restrições à prática esportiva pelas mulheres eram tão sérias que, no Brasil, no ano de 1941, durante a ditadura de Getúlio Vargas, com o intuito de impedir a prática esportiva por mulheres, saiu o seguinte decreto: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, sendo proibida a prática de uma série de modalidades esportivas pelo Decreto-Lei 3.199 do Conselho Nacional de Desportos (CND), e essas ações eram justificadas com o discurso de que o esporte representava um perigo para as mulheres. Apenas no ano de 1979 ele foi derrubado.

Na última edição dos Jogos Olímpicos de Verão, sediados no Rio de Janeiro em 2016, 45% dos atletas olímpicos eram mulheres, sendo o maior percentual já registrado da participação feminina. Ao longo de todos esses anos, muitas vezes foram punidas por lutarem por melhores condições, como foi o caso de Aída dos Santos, ex-atleta brasileira de atletismo, que foi cortada da seleção em 1972, ano dos Jogos Olímpicos, por criticar a falta de apoio que estava recebendo do Comitê Olímpico. Mesmo assim, apesar de todas as dificuldades e impedimentos, nomes de grande destaque mostraram sua força e habilidade na disputa de grandes torneios, conquistando feitos históricos. Um grande exemplo foi Kathrine Switzer que se inscreveu para disputar a Maratona de Boston de 1967, após ouvir de seu técnico que “Mulheres são muito frágeis para uma maratona”. Ela quase passou totalmente despercebida, se não fosse o diretor da corrida ver que havia uma mulher entre os participantes e retirá-la à força. A corredora resistiu e finalizou a prova, fazendo história.

Desde então, viajou pelo mundo fazendo campanha para que os Jogos Olímpicos incluíssem uma maratona feminina, e foi em 5 de agosto de 1984 que isso se concretizou, sendo a primeira vez em que mulheres puderam disputar oficialmente a maratona, e contou com 50 atletas de 28 países diferentes.

Anos se passaram e as mulheres começaram a ocupar o lugar que elas consideravam adequado ou não de acordo com seus interesses, e sua participação cresceu não apenas na prática das mais diversas modalidades esportivas, mas também na administração e comando de grandes equipes, mesmo que ainda com grande disparidade em relação aos homens, mas pouco a pouco ocupando o seu espaço. E duas histórias ilustram muito bem esse potencial. A primeira é sobre Kathleen Krüger, a mulher que está à frente do time Bayern de Munique desde 2009. O atual campeão europeu e mundial, conta com o trabalho de Krüger, responsável por toda a organização da equipe, coordenando assim viagens, treinos e assegurando que as dietas sejam seguidas. Ex-atleta do clube, teve que se despedir do gramado antes do esperado, por conta de lesões, e justamente na época, o clube buscava alguém para ajudar a realizar a ligação entre os atletas e a diretoria, foi quando ela se inscreveu e virou auxiliar em 2009 e diretora em 2012, com a saída do até então diretor. Nesse meio tempo sob seus cuidados, a equipe profissional conquistou cinco vezes a Supercopa da Alemanha, cinco vezes a Copa da Alemanha, oito vezes o Campeonato Alemão, duas vezes a Supercopa da UEFA, duas vezes a Liga dos Campeões da UEFA e duas vezes a Copa do Mundo de Clubes da FIFA, tendo uma passagem vitoriosa ao longo dos últimos 11 anos.

A segunda história é sobre a primeira treinadora mulher da NFL, Jennifer Welter, que no ano de 2015 foi contratada pelo Arizona Cardinals como auxiliar dos treinadores de linebackers. Ela foi a segunda mulher a trabalhar na principal liga americana, a primeira foi Sarah Thomas, que atuou como árbitra da NFL. Jennifer era ex-jogadora de rugby e anteriormente competiu por 14 temporadas no futebol americano, na equipe Women’s Football Alliance. No ano de 2014 ela também fez história, ocupando a posição de running back, e virando a primeira mulher a atuar entre homens em uma posição que não a de kicker, jogando pelo Texas Revolution.

A história sobre a conquista das mulheres no esporte vai muito além do que foi apresentado nesse texto, foram décadas de muita luta, sendo menosprezadas e julgadas, para que hoje algumas evoluções pudessem acontecer em uma sociedade baseada em valores masculinos. Levou mais de um século para que elas pudessem disputar todas as modalidades esportivas. Hoje, com o desenvolvimento e modernização do esporte e da sociedade, a visão da mulher que deveria ficar apenas em casa tomando conta dos filhos parece ter ficado no passado e abriu espaço para uma infinidade de oportunidades em que cada uma pode escrever a sua história. E hoje nascem figuras no esportes que tem autenticidade e podem ser elas mesmas, evidenciando o quanto são incríveis.

“Não sou a próxima Bolt ou Phelps. Sou a primeira Simone Biles.”

Simone Biles, ginasta pelos Estados Unidos

Fontes:

www.espn.com.br/

www.globoesporte.globo.com/

www.uol.com

Mulher e esporte: uma perspectiva de compreensão dos desafios do Ironman. Autor: Carla Di Pierro. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte v.1 n.1. São Paulo dez. 2007