Com a situação global causada pelo vírus, muitos esportes cessaram suas atividades por muitos meses, de modo que as competições profissionais retornaram a pouco tempo. Entretanto, em níveis amadores, incluindo o universitário, as competições e os treinos ainda não regressaram, o que causa uma preocupação para os treinadores e atletas quanto o quão preparado os times estarão para os torneios quando a situação se normalizar.

Para comentar sobre o assunto, convidamos o professor Carlos Ugrinowitsch, livre docente na escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo com foco no treinamento de força, adaptações neuromusculares, rendimento esportivo e envelhecimento para uma conversa e reunimos abaixo os principais tópicos abordados.

  1. Quais as implicações de uma não realização de exercícios físicos de forma contínua para o futuro competitivo dos atletas?

O treinamento físico é sustentado por alguns princípios básicos e um deles é o da reversibilidade que diz que quanto maior for o tempo que o atleta ficar parado, ou seja, sem a realização de treinos, maior serão as perdas da condição física e portanto maior será a dificuldade para praticar a modalidade esportiva e maior serão as chances de lesão, pois, o atleta estará com os músculos mais fracos e com suas articulações mais instáveis.

  1. Qual é a efetividade do treinamento físico em casa?

O treinamento físico em casa irá continuar fornecendo estímulos para o aparelho locomotor do atleta, impedindo que ele fique destreinado, porém, é incomum que ocorram ganhos para os atletas, pois, esse tipo de treino muitas vezes não oferece os estímulos específicos pela falta do equipamento necessário.

Além disso, pelo fato de não haver um companheiro de treino é mais provável que aquele indivíduo desista do treino e ficando cada vez mais destreinado.

  1. Como traçar bons treinos para que os atletas possam manter a forma física?

Uma das principais estratégias que devem ser utilizadas nesse tipo de treinamento é a manutenção de bons níveis de força, pois, isso irá gerar uma manutenção da potência muscular daqueles atletas, o que é imprescindível para diversas modalidades.

Além disso, há de se atentar com a resistência específica do jogo, por isso, realizar treinos no estilo circuito estimulando resistência mista (anaeróbia/aeróbica) é uma estratégia interessante e eficiente.

O maior problema para traçar bons treinos para os atletas, principalmente quando se trata do público universitário é ter alguém para supervisionar o que as pessoas estão fazendo em casa, pois, muitas vezes há pouca responsabilidade com a técnica do movimento, o que pode gerar lesões nos praticantes.

  1. Para esportes coletivos, quais são boas estratégias para o treinamento físico a distância?

Em esportes intermitentes como o futebol, basquete e handebol uma estratégia eficaz é a combinação de alguns estímulos, sendo eles:

– O uso do treinamento SIT (Sprint Interval Training), pois, esse oferece estímulos bem intensos e recruta unidades motoras rápidas, o que é específico para as modalidades coletivas intermitentes.

– O treinamento de flexibilidade, mas não em excesso para não prejudicar a estabilidade articular.

– O treinamento de força para manter bons níveis dessa capacidade, o que irá implicar em manter bons níveis de potência.

  1. Quais as dificuldades do treino a distância e como resolvê-las?

A situação de isolamento social é atípica, o que gera uma oscilação de humores muito maior nas pessoas e muitas vezes, essa oscilação pode interferir no engajamento daquele indivíduo ao treino, por isso, estratégias para manter as pessoas engajadas é de fundamental importância.

Algumas dessas estratégias seriam treinar em pequenos grupos com pessoas que possuem maior afinidade, já que dessa forma uma estará motivando a outra a participar e dar continuidade e traçar estratégias de gameficação, ou seja, estabelecer metas e desafios para as pessoas cumprirem, tornando os treinamentos mais atrativos.